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Notícias

1 de Dezembro de 2020

Dia Internacional da Solidariedade Humana

O Dia Internacional da Solidariedade Humana é celebrado anualmente a 20 de dezembro. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas em 2005, por ocasião da celebração da primeira década das Nações Unidas para a Erradicação da Pobreza (1997-2006). A celebração do Dia Internacional da Solidariedade Humana tem como objetivo destacar a importância da ação coletiva para superar os problemas globais e alcançar os objetivos mundiais de desenvolvimento, de forma a construir um mundo melhor e mais seguro para todos. Neste dia, urge a necessidade humana de uma reflexão face à pandemia, que habita o Mundo como uma ferida atroz em torno da liberdade humana, dos afetos, da comunicação, dos sistemas democráticos, da vida como matriz da existência. Há rostos como espelhos da solidão, lágrimas como tecidos que pintam as nossas casas de um oceano onde cada um de nós se encontra à deriva no barco da Vida sem o farol à vista. Clamamos os Deuses, as preces, guardamos os medos na caixa de pandora, e fazemos do Sol o nosso farol, imploramos a salvação na ciência, quiçá numa metafisica tecida nos nossos lamentos. Os nossos olhos observam a negação de um Mundo, egoísta, populista, contraditório na comunicação perdida em nenhures, onde as ditaduras acordam de mansinho. A democracia desmaia como uma dama que perde o seu amor. Tudo é violência nos recantos, e limbo do Mundo, onde o rosto do outro deixou de ser a justificação da existência. Cansados de caridade e compaixão de bolso, confinados no absurdo da irracionalidade, somos marionetas num palco sombrio. Eis que, a verdade e a caridade são duas virtudes fundamentais para a nossa salvação. Uma não pode ser vivida sem a outra, desprezando a outra, uma perde o seu valor se não observar a vivência da outra. Sem verdade não há verdadeira caridade e não pode haver salvação Universal. Destacamos para o documento do mês de dezembro – documentos do fundo do Governo Civil, como o relatório que tem como padrão da sua campanha o “Asilo de S. Francisco”, bem como o mapa demostrativo de entradas e saídas de géneros, roupas, alusivos à campanha do “Socorro de Inverno” no distrito de Bragança entre o ano de 1944 a 1945. Assistimos, após a leitura do relatório e mapa, na persistência, dessa continuidade no tempo, de diferentes modos de auxílio aos pobres que eram administrados e unificados por meio da ação caridosa das paróquias, encontrando a sua razão de ser e a sua lógica nessa figura confusa e equívoca da “compaixão piedosa”. Isso não implica afirmar que fosse um auxílio inútil. Sem dúvida, a sistémica fez o possível para que pessoas pobres pudessem gozar do direito irrenunciável e irrecusável de satisfazer suas necessidades elementares. Trata-se aqui de evidenciar a outra face do socorro, de mostrar que a ação piedosa fez o possível para que o mundo da pobreza fosse invadido, diferenciado, classificado e fixado em um espaço preciso. Como afirma Foucault: “Com a Lei de Pobres emerge, de maneira ambígua, um importante fator na história da medicina social: a ideia de uma assistência fiscalizada, de uma intervenção médica que constitui um meio de auxiliar os pobres a satisfazer necessidades de saúde que, por sua pobreza, não podiam atender e que, ao mesmo tempo, permitiria manter um controle pelo qual as classes endinheiradas garantiam … a proteção de uma faixa privilegiada da população”. Sob a ação da falsa caridade jaz um ego egoísta e manipulador, onde a doação tem por última finalidade beneficiar o próprio doador, mesmo que num primeiro momento não possa parecer, porém a maioria dos atos de doação estão sim contaminados com nosso ego, com nossos interesses pessoais, nem que seja o interesse mais oculto e subtil de disputar o reino dos céus, ou mesmo a intenção de querer e parecer ser bom aos olhos alheios. A verdadeira caridade é pura e calcada na vontade, no amor e na inteligência… Que estes documentos nos façam refletir sobre a direção que temos que tomar e a verdadeira luz face ao nosso semelhante, o outro que é o Eu no espelho da Vida. Que o amor seja o sentimento que deve sustentar todas as ações de caridade, não podendo deixa-lo substituir pela emoção, a consciência de que tudo é justo, porém tudo também é mutável, faz da caridade um movimento com poder de realizar a alquimia de todos àqueles envolvidos na ação humana.

Esta notícia foi publicada em 1 de Dezembro de 2020 e foi arquivada em: Arquivo.